terça-feira, 30 de novembro de 2010

públicas virtudes, vícios privados


“Uns venceram por seus crimes, outros fracassaram por suas virtudes” - William Shakespeare

A sociedade em geral dá permanentemente informações ao indivíduo que vão sendo usadas na construção da auto-imagem do sujeito e que contribuem decisivamente para que este vá edificando uma imagem mais ou menos positiva de si mesmo. A família não é a única responsável nesta construção, mas cimenta nela uns "pilares” de suporte para o futuro do indivíduo.

Virtudes são todos os hábitos constantes que conduzem o homem para o bem, quer como indivíduo, quer como espécie, quer pessoalmente, quer colectivamente, no sentido laico e portanto cívico. A auto-estima é a percepção que cada um tem de si mesmo, em termos afectivos. Esta resulta de um longo processo, determinado por uma panóplia de experiências que surgem na sequência de vivências em diferentes contextos: os êxitos e fracassos, o estilo educativo incutido, as avaliações sofridas, os valores e modelos sociais são algumas das “peças” que vão sendo transmitidas, construindo a personalidade.

Amizade, compreensão, generosidade, justiça, lealdade, obediência, perseverança, respeito, honestidade, sinceridade, são todas as qualidades de vida que se destacam acima dos valores religiosos.

Mas quem as pratica? Quem bebeu o chá da educação casta? Os que se afastaram das tentações nefastas da sociedade? Ou os sofredores, ostracizados, os que saíram da escumalha, os marginais?

Damo-nos de caras com os “bem – criados”, em lugares cimeiros, condecorados pelo mérito da excelência, que um dia deixam a descoberto o reverso de medalha, que no verso guarda o contraponto da escória do perverso. E há deles que provindos do “lixo”, limpam a alma, purificam a vida, praticam a dignidade, são cívicos.

Quando nos primeiros o “pano cai”, é o desmascarar dos embustes e de falsas santidades. É a inversão das virtudes, em pecados capitais. Desfilam no rol a gula, a inveja, a ira, a luxúria, a preguiça, a soberba, a avareza. A metamorfose dos intocáveis… E há tantos por aí!

Não se pode construir o palácio da caridade sobre as ruínas da justiça.