domingo, 20 de dezembro de 2009

O brilho e o baço....


A consciência da inconsciência da vida é o mais antigo imposto à inteligência. Há inteligências inconscientes - brilhos do espírito, correntes do entendimento, mistérios e filosofias - que têm o mesmo automatismo que os reflexos corpóreos, que a gestão que o fígado e os rins fazem de suas secreções

Fernando Pessoa

Brilham as luzes por todo o lado da cidade. Tremeluzem, como se o mundo fosse a representação de um céu estrelado, mas com pinturas coloridas, substituindo o ténue amarelado real das noites límpidas, quando observamos a via láctea.

As montras comerciais exibem convites natalícios à compra de bens, úteis, mas quase sempre inúteis, porque o prazer de dar viciou as mentes dos homens e das mulheres, que transmitem o ritual aos seus rebentos, que já sofrem desde crianças desta adição. E sem possibilidade de se vislumbrar grande desintoxicação, a menos que seja pela abstinência forçada, nada fácil de suportar, deixando sempre marcas, porque gera revoltas interiores, proporcionando distorções da personalidade.

O Natal é uma operação de marketing. Vende. Cria dependência. Dá lucro. Desenvolve o consumo. Sem presentes materiais não há Natal.

O espírito natalício, esse será um complemento, um meio que justificará o fim a que se destinam os artefactos luminosos, inebriando os seres que alimentam as suas ganas compulsivas de oferecer, porque é Natal.

Natal vem da ideia vocabular de nascimento, é para o mundo ocidental uma memória simbólica do surgimento de Cristo, como revolucionário ideológico, porque influenciou milhões de mentalidades, em torno de uma religião que se instituiu, ainda que desse profeta tenha somente retido as parábolas, mas não o desapego aos bens de riqueza ou de ostentação.

Hoje recorda-se o Cristo pobre, simples, de missão altruísta e tolerante, mas pratica-se a construção de riqueza, o espavento, o egoísmo e a incompreensão. No meio destes antagonismos encontramos certamente o Natal.

Veste-se o fato de Jesus, ao som de melodias angélicas, cria-se o ambiente divinal, juntam-se os cenários mágicos e eis que trocam presentes, extasiam-se meninos, alimentam-se prazeres, respeitam-se protocolos, angariam-se clientes, deliciam-se estômagos com iguarias, praticam-se umas acções solidárias, e…. Cumpre-se a tradição!

O nosso tempo é um tempo de aquisição material. Perdeu-se a fé, porque ela já não satisfaz os espíritos de hoje, no mundo das evidências. Mas ainda há uma réstia de magia ancestral, que se sobrepõe, mesmo aos mais cépticos, herdada dos nossos antepassados das cavernas, que também iluminavam os seus desejos, através da cor brilhante iluminado pelo fogo, expressos nos desenhos rupestres, afinal presentes desejados, por uma caça bem sucedida, com o mesmo sentido da ânsia de sorte que nos leva a receber também em festa profética, o Ano-Novo, incluído nas festas natalícias.


domingo, 6 de dezembro de 2009

Arquivo neural

Salvador Dali



“A memória é o espelho onde observamos os ausentes.”

Joubert

A memória passa através dos factos como um álbum. Por vezes, porém, paramos numa folha e é como se toda a vida se fixasse aí, mas quando menos se espera, está-se de novo parado noutra e projectado para trás, quase como se revivesse o evento outra vez.

A memória é intuitiva, mas a recordação é sempre reflectida, mesmo com lacunas, ainda que haja uma tendência para preenchê-las com pedaços de criatividade, pelo que, recordar pode até ser uma arte. Por isso, não é fácil a arte de recordar, visto que a recordação, no momento em que é revelada pelo acto de pensar, pode alterar-se, enquanto a memória se limita a pairar entre a lembrança nítida e a lembrança distorcida

.Como é a saudade, que se gera simplesmente pelo facto de se estar ausente de algo, ou alguém agradável para os sentidos e emoções. Na saudade vem, de um modo incisivo à recordação, algo que está presente na memória recente, mas que lentamente se vai "fantasmagorizando" e então, resta viver uma ilusão, onde o crepúsculo é duradouro, e não se faz dia….

Mas é mais difícil afastar a má recordação em benefício da boa memória, por esta estar condicionada por uma memória negativa, de pesadelo insistente, que corrói a alma e detrói o corpo, pode até matar!

É por isso que a memória é como o ventre da alma, em que a alegria e a tristeza são o seu alimento, doce ou amargo.

Os escritos e as imagens deixadas são património do silêncio e a memória é um arquivo que aguarda uma provação da paciência. Hibernam, por assim dizer, nalgum circuito da memória e um dia enchem-se de nitidez, como se acabassem de ser iluminados, ainda que nem sempre fiéis à realidade vivida, mas provocando um renascimento intenso, ainda que criativo.

É do alento das recordações agradáveis, que os velhos alimentam os seus dias, conseguindo a proeza de seleccionar os componentes doces para preencherem as horas silenciosas, que compõe o resto das suas vidas, que perderam a efusividade da juventude. É por essas memórias aprazíveis que choram, não pelos traumas vividos, porque escolheram esquecê-los, ao apagá-los da lembrança, por não terem mais esperança…


terça-feira, 24 de novembro de 2009

Muros e Ilhas...


in google imagens

O solitário é um diminutivo do selvagem, aceite pela civilização (Victor Hugo)

Os muros e as ilhas representam, a divisão, exclusão, a solidão…`


Erguem-se os muros para protecção, mas também se construem para apartar gente, separar as pessoas pela resistência das pedras, dissuadir as etnias de se imiscuírem, inibir as ideologias de se propagarem, proibir convivência social.

Os muros existem ainda por todos os cantos do mundo, desde o México ao Médio Oriente, onde a segregação é assumida, num mundo que se proclama global.

As ilhas são a tradução do isolamento, da exclusão, pelo afastamento. Podem ser locais de fruição, quando se procura um retiro voluntário de descanso. Mas podem ser locais de exílio, de repúdio para franjas sociais estigmatizadas, pontos de ostracização, chão de desterro.

Ocupam-se as ilhas para privação na geografia mundial, desde as clássicas prisões americanas, às ilhas nas Molucas, onde a pobreza indigna a vida dos campos de refugiados.

Abatem-se algumas paredes, evacuam-se umas ínsulas, todavia, perduram as repressões, as quedas são simbólicas, ínfimas partes das muitas marginalizações que metade do mundo faz a outro meio, somente porque a igualdade defendida como direito universal não existe, mas subsistem os anátemas

A força fez os primeiros servos, a sua cobardia perpetuou-os. (Rousseau)

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

azul


Morre-se nada quando chega a vez é só um solavanco na estrada por onde já não vamos morre-se tudo quando não é o justo momento e não é nunca ...
Mia Couto

Morre-se quando não existe mais ninguém pela qual se tenha vontade deviver…
Quando então a luz se apaga, resta apenas uma eterna noite para dormir
A morte é docemente azulada lembrando o céu que é um conjunto de gases, sem forma que representam o nada, a tranquila flutuação no volátil apaziguador das horas que pararam o registo dos ponteiros onde ela, a morte, se escondeu durante tanto tempo da nossa existência.
E a cor da morte pacifica a dor, enquanto alívio, serenamente o nada envolve-se do tom celestial para o que repousa, pintando de negrume o coração dos que choram a perda.
O contraste é avassalador, mas tão real, que nos esquecemos propositadamente que ele existe, ainda que a nossa memória selectiva se iluda com receio de ir ao encontro do azul, mas também de se tingir de negro…

sábado, 7 de novembro de 2009

Sebastião Salgado
Hoje apenas um pequeno nada:
Ou, um pequeno tudo:

O mundo está a apodrecer, humanamente. Perdeu-se o sentido de sobrevivência, ganhou-se o vício da usurpação.
O individualismo desmedido roubou a prática do repartir, da colectividade, como forma de aconchego e de força.
As adversidades são combatidas pela tabela da repulsa, com armas de destruição física e psicológica, ganhou-se o sentimento da aniquilação de qualquer sombra indesejada, a que pode, em qualquer altura competir com um poder instaurado.Um grande poder, ou um pequeno, não importa a relativização do lugar de trono. Apenas interessa mantê-lo, porque empresta ao ser humano a ideia de "super" e esse grau confere importância social, cuja experiência se torna viciante e como todos os vícios, ilusória de bem-estar, intemporal, como se a eternidade fosse apanágio daqueles poderosos.
Faz falta um novo "velho do Restelo", que desperte para a fragilidade ilusória dos que trepam a todo o custo na pirâmide social, que os Cânones históricos dão como desintegrada após o terminus do Antigo Regime.....não obstante o seu conservadorismo, mas que por ser ancião possuía a sabedoria da experiência adquirida:
Ó glória de mandar , ó vã cobiça
Desta vaidade a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C´uma aura popular que honra se chama..... (Os Lusíadas)

domingo, 18 de outubro de 2009

ziario।files।wordpress।com


Falar…

As palavras
São um doce alento,
Algumas, um amargo de boca,
até um incêndio!
Outras,
apenas ocas,
Vazias, banais…

Muita repletas de memórias.
Outras tímidas, inseguras;
beijos, ternuras,
enternecem, ou estremecem.

Inocentes, leves,
Tecidas de seda, refrescam;
pouco ousadas, embalam a mente.
Gritadas, severas,
rudes, apunhalam a gente!

E quem as escuta?
E quem as diz?
Assim as recolhe, minorando a solidão;
Assim as ecoa, lá fundo da razão.
Mas são palavras, então…
Saem da boca,
Entram no coração.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

rescaldo das eleições....

"A aparência de justiça combinada com a injustiça efectiva conduziria ao auge da felicidade... Para ser rigoroso, o auge da felicidade é a vida do tirano, do homem que conseguiu cometer o maior de todos os crimes ao subordinar a cidade como um todo ao seu bem particular, e que se pode dar ao luxo de abandonar a aparência de justiça ou de legalidade” - Epicuro

Democracia é um regime de governo onde o poder de tomar importantes decisões políticas está com os cidadãos directa ou indirectamente, por meio de representantes eleito. Uma democracia pode concretizar-se num sistema presidencialista ou parlamentarista, quer de natureza republicano, quer monárquico.
Os valores fundamentais da democracia são a liberdade e a diversidade, entendida a primeira como princípio sobre o qual deve fundar-se a organização política da sociedade, e a segunda, como corolário que conduz ao pluralismo de ideias e actuações.
Os inimigos da liberdade são criativos, inventando novos instrumentos ardilosos, que ludibriam o povo, invocando o bem público, conseguindo inverter as regras da ordem democrática, para que esta se transfigure num formalismo simbólico e poder passe regularmente a ser dividido entre os que já o têm, dando a ilusão ao voto, acreditando os eleitores que foram eles que escolheram livremente.
A informação distorcida, as técnicas do marketing político são a mais elaboradas formas de iludir os crentes democráticos cidadãos, que vão às urnas convictos de uma representatividade que afinal não existe, enquanto “voz colectiva” das maiorias que votaram, partindo da escolha. Só que essa escolha já estaria elaborada, “dourada a pílula”, para confundir os crentes, cujo padrão ideológico é adaptado ao desejo de quem apregoa programas políticos, que se encapuzam de utilidade publica, obscurecendo a exaltação privada.
O Estado contemporâneo em forma de democracia, está cada vez mais a adquirir jeitos de totalitarismo, embora não idênticos aos que floresceram na primeira metade do século XX e redundaram no nazismo e no comunismo. Essas que descambaram para a supressão do regime de propriedade privada, das liberdades pessoais, do controlo educacional da juventude, mediante, a permanente vigilância sobre a sociedade
A crise económica fez soar o alarme dos perigos que podem oprimir um povo, em nome do proteccionismo, se o poder estabelecido for posto em causa, sobretudo se, em prol da comunidade, os governos tomam um atalho para o totalitarismo, como salvaguarda dessa crise sistémica.
As maiorias parlamentares sob a capa de uma só força política indiciam um prognóstico de “autismo”, enfermo de sintomas autoritários, a coberto da necessidade da viabilidade de governo.

“…para que a democracia se salve e regenere é urgente que se busque assentá-la em fundamentos metafísicos e se procure a origem do poder não nos caprichos e disposições individuais, mas nalguma coisa que os supere e os explique, aprovando-os ou reprovando-os. O indivíduo passaria a ser não a fonte mas o canal necessário ao transporte das águas; nenhuma autoridade sem ele, nenhuma autoridade dele.” - Agostinho da Silva

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Ser ou não ser....


“O verdadeiro mistério do mundo é o visível e não o invisível...
Oscar Wilde, 'O Retrato de Dorian Gray

Nunca nos contentamos com a vida do nosso próprio ser: desejamos viver na ideia dos outros, para que nos aceitem, viver uma vida deformada com propósito, para isso esforçando-nos por manter algumas aparências. Trabalhamos diariamente para “embelezar” o nosso ser adulterando o seu âmago, em prol do imaginário, descurando o verdadeiro, apressamo-nos a apregoá-lo, atribuindo virtudes ao nosso outro ser. Se necessário, de bom grado , aceitaríamos ser cobardes, para parecermos valentes…

Grande sintoma este do nada que somos, trocarmos muitas vezes uma pela outra! Na competição pelo prestígio social, parece – nos sempre sensato a tentativa de aperfeiçoar a nossa imagem, em vez de o fazermos a nós mesmos. Habituados à vida alheia das celebridades, como exemplos a seguir, confundimos as nossas sombras com nós próprios.

Difícil é reconhecer de longe a índole de muitos, por mais que sejamos astutos, pois de facto, alguns escondem sob a ostentação da riqueza a sua verdadeira condição.

“Pelas roupas rasgadas mostram-se os vícios menores: / as vestes de cerimónia e as peles escondem todos eles”

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Apocalipse

pastorvaldemirsarmento.wordpress.com

Os mortos renasceram.

Os vivos morreram.

O sol apagou-se.

As estrelas romperam-se.

O céu incendiou-se.

O universo contraiu-se.

E foi o dia do juízo final…

A eternidade deu.se!

E fez-se nada.

Até sempre….

Um novo ser.

Um ser de novo.


quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Punhos de renda, vestes de burel

in imagens do Google

Há sempre os ganhadores e os perdedores, uns fazem-se à custa dos outros. -Sto Agostinho

Alguém se dirige ao anónimo e todos desviam o olhar, depois a atenção e por fim a fala…

O louvor intumesce a cauda ao "pavão", proclama com mestria de oratória o louvado e, eis então, que este chega à ribalta num ápice, consagrado pelo aplauso colectivo.

Convencidos da vida existem afinal por toda a parte, em todos e, por todos os meios. Eles estão convictos da sua excelência, da superioridade das suas obras, que sabem manobrar, em prol da sua finalidade, ávidos de projecção social.

Hoje surgem às centenas em tudo quanto é lugar: na política, no trabalho, na TV e jornais, no ginásio, no café e até nas obras sociais…

Culto do ego, ou idolatria social?

Converteu-se então numa generalidade esta presunção, ao ponto de se transformar numa característica adquirida, sob forma de litigância social. É fomentada no seio de muitas famílias, que cultivam a "petulância", entendendo-a como arma de defesa da sua posição civil. Uma boa postura, um bom ar e um toque de cultura, dissimulada na exibição de um canudo, ajudam a criar um “super-ego”, ocultando fraquezas da penumbra daquele que se quer alardear.

Depois, é só treinar, praticando o auto-convencimento, como forma de acreditar que se é capaz, numa "performance" hábil, em prol da sua vaidade.

Quem não os vê por aí?

No corre-corre diário, o convencido da vida não é um pernóstico à toa. Ele quer extrair da sua vaidade não gratuita, todo o rendimento possível. Nos negócios, na política, no jornalismo, nas letras, nas artes…

Os epítetos arcaicos da nobiliarquia foram substituídos pela antonomásia expressa pelo “Dr.” e vai-se perdendo a individualidade, para se globalizar um sectarismo de sujeitos abrangidos por aquela metonímica que fez deles homens doutos e, portanto, com direito tácito a proeminência nalgumas sociedades actuais, herdeiras das culturas clássicas de organizações sóciais demasiado estruturadas, com um Antigo regime tardio.

Prevalece assim o fervor dos títulos, arreigados a uma tradição de exuberância, cujos trajos “de luzes” têm ofuscado os comuns, funcionando como um disfarce que dominou os pelintras face à fidalguia, que ostentava o brasão, ou os “futricas,” em relação aos homens da “beca”no século XIX, portadores de insígnias com prerrogativas nobiliárquicas”.

Mas, quando a máscara da vaidade cai...fica-se nu, como todos vieram ao mundo, como todos haverão de partir dele!

É o disfarce que nos faz passar incólumes por entre as gentes, dá-nos força, acalenta os nossos dias, faz-nos reconhecidos na colectividade, espanta-nos os medos, convence-nos da superioridade, cultiva a soberba.

A realidade é uma luz fria, sem socapas iluminadas pelas gambiarras sociais, que tanto mais cintilam quanto mais variadas e potentes forem as acendalhas, contrapondo o homo vitroviano, a cru, anatómico.

"Ver claro é não agir", escreveu Fernando Pessoa Porém, poucos vislumbram com clareza, por isso encontram no espavento de um cognome, a melhor “muleta” um mérito, tantas vezes oco.

“Nem que essa grandeza possa ser breve…. Praticam uns com os outros apenas um “espelhismo” lisonjeador… “ - Alexandre O'Neill


terça-feira, 28 de julho de 2009

Arcaísmo...

MÃO VELHA DOS WOMAN´S
| Dreamstime.com


O homem começa a envelhecer quando as lamentações começam a tomar o lugar dos sonhos. (John Barrymore)


Afinal o que é a velhice?
Um erro do tempo?Uma forma de selecção?
Personificada , como defini-la?
Perguntei a uma criança.
"Sou muito jovem-clamou-não a conheço!"
Interpelei um adulto.
que me respodeu esperá-la,
mas, pelo que alguém informara,
seria uma dama sem idade,
despida de opulência, nada vaidosa,
resignada, abenegada,
sem futuro,nua de sonhos.
Indaguei junto de um idoso,
mas só recebi longos silêncios...
olhares vazios,desalentos
Prossigo sem saber, continuo a averiguar.
E os anos vão passando...
Não sei se irei morrer triste,
antes mesmo de a encontrar!
assim, partirei sem esse estigma,
sem sentir qualquer saudade,
por nem saber se ela existe...

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Ramos de expiação

A árvore da vida - Klint

Há muito que vês todas as histórias

de personagens passantes por essas paragens.

Abrindo sucessivos caminhos e atalhos,

numa busca desenfreada, pela vida realizada.

Descansando na tua sombra o cansaço...

Achando por fim, o seu derradeiro lugar.

No horizonte, essa procura incerta, mas desejada,

será marcada, nos veios do teu tronco calejado.

Continuas a espiar.do alto dos teus longos ramos

Os viajantes inquietos,que em ti confiaram

Tantos suspiros soprdos!Tants risos dobrados!

tanta tristeza, Tanta alegria!

Espias do alto a morte,mas alimentas a vida.

Meg

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Estrela cadente




sites2.uai.com.br/jornalismo/imagem/foto6.jpg




As estrelas nascem, brilham e morrem….

Mas a fama tem um preço:

Despertam iras e rancores, que se erguem da poeira que envolve a sociedade sedenta de inveja.

Enquanto a magnificência resplandecente perdura, através de um corpo pujante, atendo as chamas do seu potencial criativo, a vida é bela!

A magnitude do endeusamento à escala planetária desmesura o ser adorado, convertendo-o a pouco e pouco num perdulário despersonalizado.

Exige-se cada vez mais luz!!!!

Observa-se o recurso a uma forma de mimetismo, em consonância com a reclamação colectiva.

A estrela transfigura-se, perde a identidade. Cria um fetiche ofuscando o seu “eu” pela ilusória versão do sucesso efémero.

Como se não existisse amanhã!

Um dia o sol apaga-se. Salda-se a dívida contraída com o corpo.

Restam as memórias reluzentes duma criação...

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Memórias desvanecidas

Salvador Dali


O esquecimento é defesa do ser!
Senão, como é que
o filho esqueceria a mãe,
a mesma que lhe deu a vida,

o seguiu com o seu olhar zeloso,

quando esta emite o último suspiro…

e não volta mais…


Ou como havia a mãe de deixar ir os filhos,
a quem deu todo o seu amor,

todo o seu saber.
Quando o saber está dado,

o amor nunca terminado,
O filho parte, o ninho fica vago…

Como se ergueria do chão,

sem o esquecimento o que foi torturado,

o que perdeu a identidade,

o perseguido, o ostracizado

o mal-amado,

quando a escuridão emergiu das brumas

e o mundo lhe fechou as portas…

Faz-se o luto:

A catarse ameniza a dor,

Desvanece-se a intensidade do sofrimento,

Renova-se um filamento da vida,

Ilumina-se um atalho.

De face cabisbaixa,

Parte-se de novo…


(Meg)

sábado, 20 de junho de 2009

Um mar finito no infinito


www.walkiria.com.br/




Nunca o mar foi tão imenso
quanto a minha solidão...
Era eu quem o olhava.
Quando o mar no horizonte desaparecia
e a areia não tinha fim sob os meus passos,
então o caos harmonizava -se serenamente.
E com a ordem restabelecida,
eu havia-me confundido finalmente
com esse mar.

domingo, 14 de junho de 2009

Ser ou não ser místico, eis a questão....



  

                                                           www.naturemarket.com.br/.../olhomistico



No seguimento de uma opinião nos "comentários "deste Blogg, pelo Zé Ernesto:

Tu, Místico....

Tu, místico, vês uma significação em todas as cousas. 
Para ti tudo tem um sentido velado. 
Há uma cousa oculta em cada cousa que vês. 
O que vês, vê-lo sempre para veres outra cousa. 

Para mim, graças a ter olhos só para ver, 
Eu vejo ausência de significação em todas as cousas; 
Vejo-o e amo-me, porque ser uma cousa é não significar nada. 
Ser uma cousa é não ser susceptível de interpretação. 

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos" 
Heterónimo de Fernando Pessoa


Místico é o  que concebe a união indissolúvel entre o Universo e os seres, através da  essência primordial da vida,também denominada  Consciência Cósmica, ou Deus 
  O místico procura a presença do Ser Supremo , ou do inefável , nas profundezas de seu ser, fprocurando perceber tudo o que existe, todas as coisas, como fazendo parte de uma infinita e essencial unidade, em consecução dialética, de causa e efeito.
Poderá ser-se místico, sem que tenha necessariamente de se pensar através dos olhos de uma religião.
Pensar, reflectir, teorizar, tudo isto tem algo de místico....

A filosofia budista é profícua no culto do pensamento:
A essência da mente é o que se chama de "coração do despertar". Apesar de ser pura, pela nossa ausência de realização do que ela é, coração do despertar e impurezas ilusórias encontram-se misturadas. Essa mistura constitui a base da purificação, semelhante a um tecido branco maculado por manchas. O tecido pode voltar a ser branco graças ao fato de a brancura ser a sua natureza. Da mesma forma, a pureza é a natureza de nossa mente e nós podemos recobrá-la. Um carvão, ao contrário, não tem qualquer chance de se tornar branco, pois é originalmente negro. Se a ilusão, a dualidade e o sofrimento fossem a natureza de nossa mente, não teríamos qualquer possibilidade de nos livrarmos delas." -in princípios da Meditação, Dharma




domingo, 31 de maio de 2009

A caminho da viagem de finalistas


                                                                                 peace4ever.blogs.sapo.pt

Para além da curva da estrada 
Talvez haja um poço, e talvez um castelo, 
E talvez apenas a continuação da estrada. 
Não sei nem pergunto. 
Enquanto vou na estrada antes da curva 
Só olho para a estrada antes da curva, 
Porque não posso ver senão a estrada antes da curva. 
De nada me serviria estar olhando para outro lado 
E para aquilo que não vejo. 
Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos. 
Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer. 
Se há alguém para além da curva da estrada, 
Esses que se preocupem com o que há para além da curva da estrada. 
Essa é que é a estrada para eles. 
Se nós tivermos que chegar lá, quando lá chegarmos saberemos. 
Por ora só sabemos que lá não estamos. 
Aqui há só a estrada antes da curva, e antes da curva 
Há a estrada sem curva nenhuma. 


Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos" 
Heterónimo de Fernando Pessoa

Viajar com jovens, na sua viagem de finalistas.... uma semana fora, curtir a praia, a novidade, o grupo.

O Adeus aos livros!

 
Recordam-se vocês do bom tempo d'outrora, dum tempo que passou e que não volta mais...quando tudo sorria sempre, mesmo quando os dias amanheciam cinzentos, para logo se inundarem  novamente de luz , quando os nos amigos apareciam em bandos.  
Os professores acompanham os estudantes nessas viagens, despem as suas capas de doutores, arrumam os livros, calçam sapatilhas e revisitam a suas passada mocidade!
Momentos  livres, dias de crescimento, lugares desbravados!!!
Estes projectos e as suas iniciativas têm de oferecer  vivências, que visem lançar os alunos, em fim duma fase da sua vida académica, para uma  experiência, que se guardará na  memória futura, como uma bela recordação da juventude essa mesmo, que só se vive uma vez!


Lembremos as palavras de David Mourão Ferreira,  consagrado e saudoso poeta da actualidade portuguesa.
Elas resumem tudo o que sentimos na flor da idade, num ambiente de verão:


"Jovens e nus frente ao mar, estão presentes em cada célula do seu corpo. Mas a vida que têm é demais para eles e não sabem que fazer dela. Emergem da água rutilantes e riem. Depois deitam-se na areia, gastam o dia e a noite a amar-se, a embebedar-se, a estoirar todo o prazer e forças que têm. E ficam ainda com vida por gastar. É desses sobejos já com bolor que terão de viver depois na velhice"
    

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Metamorfoses....


Dali

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Luís de Camões




Quantas vezes desejamos mudar aquilo que somos!
Será que nos vamos transformando?
Ou, apenas adaptando àquilo que a vida nos vai trazendo, procurando apenas encontrarmos uma defesa para a preservação do nosso bem-estar?
A mudança é sempre efémera, mudamos porque aprendemos com os erros, mas lá no fundo do nosso ser, pervalecem as nossas convicções, o nosso eu, que somente a maturação nos levou a uma assetividade de actuação, porque não vivemos isolados.
quantas vezes desejamos desaparecer!
E seria mesmo até sempre?