quarta-feira, 29 de abril de 2009

Mãe há só uma?

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Poema à Mãe

No mais fundo de ti, 
eu sei que traí, mãe 

Tudo porque já não sou 
o retrato adormecido 
no fundo dos teus olhos. 

Tudo porque tu ignoras 
que há leitos onde o frio não se demora 
e noites rumorosas de águas matinais.,, 

Eugénio de Andrade

Herdámos o factor genético  do impulso para ser mãe. Nós mulheres, brincamos desde a infância com bonecas, aguçando assim esse instinto, que se vai confundindo com um sentimento amadurecido pela educação, que nos molda a mente, crescendo em nós os afectos, estes de feição peculiar, na medida em que se tornam incondicionais na maioria das mães.
Mas há tantas ainda, que abandonam os filhos? Quem lhes atira a primeira pedra?
Não é linear a culpabilização para elas. 
Umas abandonam por protecção, qual impulso de de abrigo, porque  o ninho não foi feito, o refúgio está sem conforto, quando só o amor não basta. Então, a renúncia procura uma nova aceitação, numa tentativa desesperada de troca de lugares: criar é amar.
Outras, são desprovidas de  equilíbrio  no  entendimento, não são imputáveis, foram mães porque têm órgãos reprodutivos,mas não conseguem lidar com um ser que as limita, c lhes corta os movimentos, tornando-se intrusa do seu quotidiano rotineiro, sem afeições duradouras.
Todas as restantes são  recheados de desvelo para com os seus rebentos, criam-nos, preservando-os dos perigos, sofrem os seus sofrimentos, não descansando enquanto os não sararem, rejubilam com seus  momentos de felicidade, mostram-nos,  tocam-nos e acarinham-nos, preparam-lhes o crescimento, visualizam o seu futuro com sucesso, sonham...
Um dia virá uma desilusão, outra, tudo é compreendido, desculpado, apaziguado, bate o amor mais forte, a geminação de sentimentos entre mãe e filho/a entra na acção da cumplicidade, cuja esperança genuína legitima as acções  maternas.
E elas desgastam-se, desesperam muitas vezes, sentem vontade de desistir...mas o coração fala mais alto, a razão dissimula -se, os seus sonhos vertem lágrimas, mas secam, fazem vigílias, inventam soluções, elas encorajam-se, partem à luta, outorgam o que têm  sem retorno.
Não vivem uma vida, mas várias, tantas as vividas pelos que dela nasceram, assumindo por vezes sozinhas o esteio delas.
Repreendem, mortificam, enfadam, para logo perdoar, afagar e apaziguar a ligação, fragilizada, mas não cessada.
E o menino/a adormecido no fundo dos seus olhos permanece lá até ao último olhar dela..