quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Sum ergo cogito et dubito…

Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre suportar na mente as flechadas da trágica fortuna, ou tomar armas contra um mar de obstáculos e, enfrentando-os, vencer?

William Shakespeare

Somos o que construímos, mas não escapamos à herança dos genes que nos criaram.

Constituímo – nos num punhado de ideias edificadas a partir da educação, da experiência e da aptidão inata para sermos alguém individualizado. Sentimos, mas também intuímos. Misto de bichos e de humanos, amamos e odiamos, por vezes com a mesma força com que devoramos, quando temos fome.

A melhor barreira que nos separa dos outros seres vivos é que trazemos connosco o dom da dúvida, face à vida. Questionamos tudo, reflectimos, hesitamos, decidimos em abono da razão ou do coração, mas o nosso vacilar conduz-nos à edificação da nossa existência.

Sabemos que somos finitos, mas porque o tememos, procuramos sempre não vislumbrar esse horizonte, actuamos como se não houvesse amanhã…A esperança é sempre a candeia que alumia o nosso percurso, agarramo-nos à mítica fé de que ainda não chegou a nossa hora. Observamos as partidas dos outros, que do mesmo cais zarpam rumo ao nada, expressamos os nossos lamentos, mas lá no fundo não consentimos que um dia destes sejamos nós a levantar a âncora. Presunção de eternidade…

Nunca será tarde: existimos, somos, duvidamos, vivemos e finamo-nos renegando a morte. E os que vão ao seu encontro, deixaram de duvidar, perderam o receio, desistiram da existência, demitiram-se de si.