sábado, 30 de outubro de 2010

a noite mágica

Luar google

O pensamento é o pensamento do pensamento. Luminosidade tranquila. A alma, de certa maneira, é tudo o que é: a alma é a forma das formas. Súbita tranquilidade, vasta, incandescente: forma das formas”. James Joyce

A "festa dos mortos" celebrava o " céu e a terra" , para os celtas, sendo o lugar dos mortos um lugar de felicidade pura, onde não haveria fome nem dor. A celebração realizava-se há mais de 2000 mil anos, com rituais presididos pelos sacerdotes druidas, que actuavam como "médiuns" estabelecendo a conexão entre os vivos e os seus antepassados falecidos. Dizia-se também que os espíritos dos mortos voltavam nessa data para visitar seus antigos lares, sendo guiados pelos seus familiares, através das fogueiras. O catolicismo adoptou esta festa em honra dos defuntos, cuja expressão se encontra traduzida nos enfeites dos cemitérios, floridos e iluminados, perpetuando a elevação da alma, em comunhão com os parentes terrenos, numa memória una, que se crê imortal.

Nada de condenável este rito, solenizando a morte, enquanto perda e reencontro, porque se deseja, como sempre se aspirou, aliás, à eternidade, à ligação do que passou, com o que perdura e se vaticina ainda. O misterioso, o oculto e a fragilidade do ser humano, que racionaliza, mas não encontra soluções para o desconhecido, porque a partida deste mundo é insólita e inverosímil.

Dá-se a diáspora pelas teorias da clarificação, espremendo-lhes a clarividência possível, porém inacabada utopia, porque não passou ainda de um teorema, alimentado por especulações, adoçado por ilusões, cultos secretos, esperança de que o mundo dos vivos se propague no dos mortos, como uma continuidade anímica, que dá sentido à existência.

É a hora de homenagear os antepassados. Façamos a vigília, com máscara, travessura, magia e doçura

domingo, 26 de setembro de 2010

Contra - muros...

Marlene Dumas



O que faz alguns homens e mulheres serem recordados, é apenas a sua marca de inconformados com o politicamente correcto, que a sociedade estipulou como norma, porque os que ocupam nela lugares cimeiros, estabeleceram padrões segundo os seus valores, para que tudo o resto que não se encaixasse neles. Ostracizando, será mais fácil a uma minoria reinar. Melhor, dominar, deixando fluir a tendência humana para a repressão sobre tudo o que poderá apresentar-se como obstáculo na competição pela busca da felicidade. Será sempre assim? Tem sido sempre ao longo da História da humanidade, desde a conquista da sobrevivência na pradaria, em bandos primitivos, refinado à medida que a sociedade se tornava institucionalizada.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Em actualização




AVISO À NAVEGAÇÃO
"Que a inspiração chegue não depende de mim. A única coisa que posso fazer é garantir que ela me encontre trabalhando."" Picasso



Este Blog será actualizado, a partir de agora, somente uma vez em cada final de mês. Agradecida a todos os seguidores.

domingo, 29 de agosto de 2010



“O campo da derrota não está povoado de fracassos, mas de homens que tombaram antes de vencer.”

Abraham Lincoln ,

A desilusão arrasa-nos, porque bloqueia a fé, suprime a esperança, tira o sentido à vida, ao demolir a vereda da nossa existência.

Nada é mais amigo da morte que o desengano, porque quando olhamos em frente só vislumbramos o sombrio caminho que não nos alenta a percorrer…

Dói e corrói, deixa um vazio imenso, uma dúvida relativa ao esforço empregue na construção fantasma daquilo que não se ergueu afinal. O júbilo esfumou-se e a alma enche-se de luto.

Torna-se agora mais tenebroso o futuro, tememos traçar propósitos, acabrunhados pelo pânico do malogro. Ficamos mais cépticos, a descrença alimenta o nosso dia-a-dia.

Passamos a sobreviver, deixamos de ser.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Sum ergo cogito et dubito…

Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre suportar na mente as flechadas da trágica fortuna, ou tomar armas contra um mar de obstáculos e, enfrentando-os, vencer?

William Shakespeare

Somos o que construímos, mas não escapamos à herança dos genes que nos criaram.

Constituímo – nos num punhado de ideias edificadas a partir da educação, da experiência e da aptidão inata para sermos alguém individualizado. Sentimos, mas também intuímos. Misto de bichos e de humanos, amamos e odiamos, por vezes com a mesma força com que devoramos, quando temos fome.

A melhor barreira que nos separa dos outros seres vivos é que trazemos connosco o dom da dúvida, face à vida. Questionamos tudo, reflectimos, hesitamos, decidimos em abono da razão ou do coração, mas o nosso vacilar conduz-nos à edificação da nossa existência.

Sabemos que somos finitos, mas porque o tememos, procuramos sempre não vislumbrar esse horizonte, actuamos como se não houvesse amanhã…A esperança é sempre a candeia que alumia o nosso percurso, agarramo-nos à mítica fé de que ainda não chegou a nossa hora. Observamos as partidas dos outros, que do mesmo cais zarpam rumo ao nada, expressamos os nossos lamentos, mas lá no fundo não consentimos que um dia destes sejamos nós a levantar a âncora. Presunção de eternidade…

Nunca será tarde: existimos, somos, duvidamos, vivemos e finamo-nos renegando a morte. E os que vão ao seu encontro, deixaram de duvidar, perderam o receio, desistiram da existência, demitiram-se de si.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

A leitura do rosto

Censura in Google imagens

Quando a cara não transmite qualquer sentimento…(síndrome de Moebius, doença rara)

(Benedict Carey, in THE NEW YORK TIMES)

Não há como comunicar pela expressividade do gesto: o rosto que fala, as mãos que dizem palavras acalenta os nossos interlocutores, valendo mais que mil palavras! Faz falta hoje em todo o lado: nos hospitais, nas escolas, nos tribunais...As instituições, porque são organizações assentes em regras estipuladas para o efeito, tomaram como prática a eficiência acima do humanismo. E o ser humano é carente de afectos, são eles que lhe dão alento quando está frágil, vulnerável, num leito moribundo, numa sala de aula a ser testado, num tribunal, a ser sentenciado.

“Deus ter-nos-ia posto água nas veias, em vez de sangue, se nos quisesse sempre imperturbáveis”

(Júlio Verne)

segunda-feira, 5 de julho de 2010

A essência e a aparência

Salvador Dali

Não vivemos num mundo de verdades. A fogueira das vaidades alimenta a chama do fingimento, que, por sua vez nutre as mentes, em função da convencionado como socialmente correcto, ou, porque simplesmente não resistimos ao prazer do disfarce.

O baton encobre os lábios secos, o blush dá tonalidade à face, para ocultar umas rugas ainda susceptíveis de algum disfarce, o brilho dos tecidos ofusca o olhar dos que observam os que desfilam nos locais bem frequentados, a gravata empresta um ar respeitável ao homem que necessita ser aceite no mundo do trabalho, ou dos ambientes de glamour…

De uma maneira ou de outra todos inventamos. Fantasiamos…

A necessidade de encobrir, alterar, aparentar dá vida à segunda personagem que habita um pouco em todos nós. Se é um alter-ego, explicado pela ciência psicológica, que com maior ou menor intensidade se desenvolve connosco, ou, se é antes uma necessidade social que adquirimos, uns muito, outros pouco, através da educação, consoante o meio em que crescemos, pois será discutível, numa base académica, ou mesmo tema para uma investigação mais apurada.

Em algum momento da nossa existência metamorfoseamos… Efeito Pigmaleão!

A realidade é que o recurso ao disfarce é de facto tão ancestral quanto a humanidade, quando o homem das cavernas usava disfarces, obtido de artefactos, ou peles de animais, para rituais porventura de base mágica, apesar de poderem ter servido a sobrevivência, pela caça.

A simulação é quase um desafio, como um jogo a um só jogador de duas faces. E aplica-se em quase tudo, desde a maquilhagem, pela caracterização, à escrita, pelo recurso aos heterónimos e pseudónimos, à produção de imagem e som, na magia do cinema, personalizado pelos actores, ao mundo da Web, nas salas de chat, ou no second live.

Os subterfúgios têm sido o encanto que nos dá asas para voar, libertação do real, refúgio da dor, o mito cresce com os nossos sonhos, preenche-nos a mente, inebria o lado obscuro da dureza que a vida nos impõe, mas que a luz da fantasia nos empresta.

Quando já não existir outro “eu” em nós, simplesmente morremos.