quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Punhos de renda, vestes de burel

in imagens do Google

Há sempre os ganhadores e os perdedores, uns fazem-se à custa dos outros. -Sto Agostinho

Alguém se dirige ao anónimo e todos desviam o olhar, depois a atenção e por fim a fala…

O louvor intumesce a cauda ao "pavão", proclama com mestria de oratória o louvado e, eis então, que este chega à ribalta num ápice, consagrado pelo aplauso colectivo.

Convencidos da vida existem afinal por toda a parte, em todos e, por todos os meios. Eles estão convictos da sua excelência, da superioridade das suas obras, que sabem manobrar, em prol da sua finalidade, ávidos de projecção social.

Hoje surgem às centenas em tudo quanto é lugar: na política, no trabalho, na TV e jornais, no ginásio, no café e até nas obras sociais…

Culto do ego, ou idolatria social?

Converteu-se então numa generalidade esta presunção, ao ponto de se transformar numa característica adquirida, sob forma de litigância social. É fomentada no seio de muitas famílias, que cultivam a "petulância", entendendo-a como arma de defesa da sua posição civil. Uma boa postura, um bom ar e um toque de cultura, dissimulada na exibição de um canudo, ajudam a criar um “super-ego”, ocultando fraquezas da penumbra daquele que se quer alardear.

Depois, é só treinar, praticando o auto-convencimento, como forma de acreditar que se é capaz, numa "performance" hábil, em prol da sua vaidade.

Quem não os vê por aí?

No corre-corre diário, o convencido da vida não é um pernóstico à toa. Ele quer extrair da sua vaidade não gratuita, todo o rendimento possível. Nos negócios, na política, no jornalismo, nas letras, nas artes…

Os epítetos arcaicos da nobiliarquia foram substituídos pela antonomásia expressa pelo “Dr.” e vai-se perdendo a individualidade, para se globalizar um sectarismo de sujeitos abrangidos por aquela metonímica que fez deles homens doutos e, portanto, com direito tácito a proeminência nalgumas sociedades actuais, herdeiras das culturas clássicas de organizações sóciais demasiado estruturadas, com um Antigo regime tardio.

Prevalece assim o fervor dos títulos, arreigados a uma tradição de exuberância, cujos trajos “de luzes” têm ofuscado os comuns, funcionando como um disfarce que dominou os pelintras face à fidalguia, que ostentava o brasão, ou os “futricas,” em relação aos homens da “beca”no século XIX, portadores de insígnias com prerrogativas nobiliárquicas”.

Mas, quando a máscara da vaidade cai...fica-se nu, como todos vieram ao mundo, como todos haverão de partir dele!

É o disfarce que nos faz passar incólumes por entre as gentes, dá-nos força, acalenta os nossos dias, faz-nos reconhecidos na colectividade, espanta-nos os medos, convence-nos da superioridade, cultiva a soberba.

A realidade é uma luz fria, sem socapas iluminadas pelas gambiarras sociais, que tanto mais cintilam quanto mais variadas e potentes forem as acendalhas, contrapondo o homo vitroviano, a cru, anatómico.

"Ver claro é não agir", escreveu Fernando Pessoa Porém, poucos vislumbram com clareza, por isso encontram no espavento de um cognome, a melhor “muleta” um mérito, tantas vezes oco.

“Nem que essa grandeza possa ser breve…. Praticam uns com os outros apenas um “espelhismo” lisonjeador… “ - Alexandre O'Neill


11 comentários:

  1. Olá Meg, é tudo verdade o que tu dizes, o problema é que enquanto o disfarce não cai vai machucando quem apanha pela frente!

    Beijos
    Flor

    ResponderEliminar
  2. Que puedo decirte. si en tu espacio me entrego y me pierdo con tus escrito.. me sorprendes siempre..

    Saludos fraternos con cariño
    Un abrazo grande

    Besos

    ResponderEliminar
  3. Olá amiga MEG

    Valioso om seu texto amiga.
    Puras verdades, mas de quem é a culpa por
    andarem estes pavões todos vaidosos, julgando os
    melhores? Os leigos elegem-nos e os conscientes,
    levam com eles em cima.

    beijin hos

    Alvaro

    ResponderEliminar
  4. Frase certa a de S. Agostinho..; encaixa-se muito bem na sociedade actual onde o ter e o parecer têm muito mais valor que o SER.Infelizmente estamos a incutir esses valores nas nossas crianças, quando fazemos de tudo para satisfazer todos os desejos delas.Estamos a incentivá-los ao consumismo desenfreado e a darem importância a bens materiais desnecessários como telemóveis de ultima geração, roupas de marca etc ; é importante nos dias de hoje que tenham tudo isso para que não fiquem mal vistos perante os outros. Espero sinceramente que esta crise mostre o lado positivo que sempre tiveram todas as outras crises económicas, fazendo o homem de hoje pensar e mudar o seu modo de viver; está na hora de começarmos a evitar desperdícios e a vivermos só com aquilo que temos e podemos, não querendo parecer aquilo que não somos e não temos. Belo tema. beijinhos

    Emília

    ResponderEliminar
  5. Oh, Linda Amiga:
    Sabe o que escreveu...?
    Delicia e fascina.
    Um texto abragente de pessoas, de actos, da soberba de protogonismo e de gigante e poderosa auto-estima idolatrada que não se devem exibir ou revelar.
    Um texto profundo e extraordinário.
    Tem um valor precioso. Não lhe descortino defeitos, na minha humildade, embora possa duvidar dela, mas, acredite não possuo nada do que, magistralmente, explicita com brilhantismo e gigante domínio das palavras.
    Um Post como poucos.
    Escreveu um belo e soberbo texto da Blogosfera. De um talento fabuloso e ímpar.
    Adorei, amiga!
    Beijinhos amigos com um respeito imenso pela sua genialidade latente. Visível.
    Fascinado por tanta beleza: A SUA!

    pena

    Desculpe, se na minha modéstia disse alguma incoveniência ou aberração.
    Bem-Haja, fantástica amiga de sonho.
    Adorei!

    ResponderEliminar
  6. Oi Amiga
    Mudança?
    Não acredito, a sociedade continua com os seus pavões..
    Será que alguém diz " O REI VAI NU"?
    Herminia

    ResponderEliminar
  7. adorei a visitinha, Meg.
    O que vc escreve aqui muito me interessa hein!!
    bjs do Paulinho

    ResponderEliminar
  8. A ilusão de viver sobrepõe-se, muitas vezes, à realidade que é a vida. Sempre foi assim, o que não quer dizer que não tentemos mudar as coisas!

    Continua iluminando o nosso caminho, com as tuas palavras brilhantes de sabedoria e discernimento

    Beijinho
    maria

    ResponderEliminar
  9. Olá amiga

    passe em meu blog para receber o selinho BLOG DE LUZ quem para si, ao cimo da barra lateral.

    Beijinho

    Alvaro

    ResponderEliminar
  10. Devo concordar...

    Sempre queremos ser vistos pelo o que fizemos, em vez de estarmos feliz por fazer uma boa causa...

    Fique com Deus, menina Meg.
    Um abraço.

    ResponderEliminar